Como se escreve
Quando eu tinha somente cinco anos, a professora do jardim de infância pediu aos alunos que fizéssemos um desenho de alguma coisa que amávamos. Eu desenhei a minha família. Depois, tracei um grande círculo com lápis vermelho ao redor das figuras. Desejando escrever uma palavra acima do círculo, saí de minha mesinha e fui até a mesa da professora e disse: - Professora, como a gente escreve...?
Ela não me deixou concluir a pergunta. Mandou-me voltar para o meu lugar e não me atrever mais a interromper por aula. Dobrei o papel e o guardei no bolso. Quando retornei para casa, naquele dia, me lembrei do desenho e o tirei do bolso. Alisei-o bem sobre a mesa da cozinha, fui até minha mochila, peguei um lápis e olhei para o grande círculo vermelho. Minha mãe estava preparando o jantar, indo e vindo do fogão para a pia. Eu queria terminar o desenho antes de mostrá-lo para ela e disse: - Mamãe, como a gente escreve...? – Menino, não dá para ver que estou ocupada? Vá brincar lá fora – foi a resposta da minha mãe. Dobrei o desenho e guardei no bolso. Naquela noite, tirei outra vez o desenho do bolso, olhei para o grande círculo vermelho e peguei o lápis. Queria terminar o desenho antes de mostrá-lo para meu pai. Alisei bem as dobras e coloquei o desenho no chão da sala, perto da poltrona reclinável do meu pai e disse: - Papai, como a gente escreve...? – Estou lendo o jornal e não quero ser interrompido. Vá brincar lá fora – respondeu meu pai. Dobrei o desenho e o guardei no bolso novamente.
Os anos passaram... Quando tinha 28 anos, minha filha de cinco anos, fez um desenho. Era o desenho de sua (minha) família. Sorri quando ela apontou uma figura alta, de forma indefinida e me disse: - Este aqui é você, papai! Olhei para o grande círculo vermelho feito por minha filha ao redor das figuras, e lentamente comecei a passar o dedo sobre o círculo. Ela desceu rapidamente do meu colo e avisou: - eu volto logo! E voltou com um lápis na mão. Acomodou-se outra vez nos meus joelhos, posicionou a ponta do lápis perto do topo do grande círculo vermelho e perguntou: - Papai, como a gente escreveu amor? Abracei minha filha, tomei a sua mãozinha e a fui conduzindo, devagar, ajudando-a a formar as letras, enquanto dizia: - Amor... Amor, queria, se escreve com as letras T...E...M...P...O (TEMPO).
Reflexão: Conjugue o verbo amar todo tempo. Use o seu tempo pra amar. Crie um tempo extra para amar, não esquecendo que para os filhos, em especial, o que importa é ter quem ouça e opine, quem participe e vibre, quem conheça e incentive. Não espere seu filho ter que descobrir sozinho como se soletra: amor, família, afeição... Por fim, lembre-se: - Se você não tiver tempo para amar, crie. O ser humano é um poço de criatividade o tempo...
“O tempo é uma questão de escolha.”